segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Festarolas e os putos

Este fim de semana tive o prazer de visitar uma feira na Malveira que me recordou coisas adormecidas da minha infância e que gostava de partilhar com vocês. Possivelmente também vos recordarão das vossas, caso tenham tido, como eu, a sorte de passar sempre as férias de Verão na "terra" da família.

Um bom dia de férias de Verão, na Sertã, começava ás 8 da manhã. Sandes, Bongos, pacotes de batatas fritas, laranjas e o que mais houvesse, era tudo metido para dentro da mochila, juntamente com a toalha. Encontravamo-nos todos á minha porta, porque eu era a que morava mais perto, ou então no início da descida do escondidinho. O escondidinho tinha esse nome, na minha opinião (sem certeza), porque por detrás da fachada frontal de um antigo restaurante abandonado se escondia um caminho ingreme mas efectivamente mais rápido do que o alternativo para chegar à ribeira. Descíamos e pelo caminho apanhavamos algumas amoras das amoreiras que se estendiam para cima de nós e muitas vezes nos picavam. Chegando cá a baixo, tínhamos de atravessar duas comportas que eu hoje olho para elas e penso que era uma criança suicida mas nem tinha noção. Para terem uma ideia, os meus pézinhos com 13 anos, eram da largura das comportas, tinham cerca de um metro de comprimento, depois uma pedra de suporte que era o nosso descanso e mais uma igual, e enquanto as passavamos, a água vinha em grande velocidade e força empurrando-nos para uma queda de cerca de metro e meio direitinhos para o cimento. Mas passavamos lá como se nada fosse. Pousávamos as malas nas escadas ao pé da ribeira e atirávamos a roupa ao ar (que se lixasse o pó e a sujidade) e bora para dentro de àgua. Bombas, cambalhotas, pinos, roupas para dentro de água e peixinhos a mordiscarem-nos os pés eram coisas essenciais de um dia na ribeira.
Chegando à hora de almoço, não havia nada melhor do que nos sentarmos de rabo molhado nas mesas de madeira viradas para a ribeira, acompanhados da sombrinha das árvores. Comíamos a comida uns dos outros, partilhávamos tudo, ás vezes levavamos doces e uma fatia dava para 5 ou 6, dependendo de quantos fossemos. Da parte da tarde, ou dormíamos por lá deitados na relva, para acordar cheios de formigas e irmos a correr para dentro de água, ou íamos até a minha casa e víamos um filme até chegar a hora de fazer a digestão e voltarmos a correr lá para baixo. Chegando ás 7 horas, arrumavamos tudo para voltar. Mas não antes de subir à pia que era uma espécie de praxe. Tínhamos de subir por pedras que amuravam a ribeira numa das margens, cada vez que metíamos a mão saiam 4 ou 5 bixos. Só de pensar estou me a arrepiar toda. Mas quando chegávamos lá a cima, tínhamos uma sanita deixada por alguém de onde saltávamos a uma altura de 2 metros para dentro de água. Batíamos sempre com alguma coisa no chão, tentávamos sempre que fosse com o rabo ou com algo que não a cabeça. A água era pouco profunda para um salto tão grande. Mas para algo ainda melhor, subindo mais um pouco, tínhamos uma árvore, de onde eu nunca saltei, que muitos amigos meus subiam e que tinha o dobro da altura da pia. Quando somos miúdos que se lixe, parte-se? mete-se gesso e o pessoal todo assina que é fixe.
Mas no final de tudo isto, iamos a correr jantar para no máximo ás 21h estarmos a sair de casa. Cheguei a ir a pé algumas vezes, mas andar 40 minutos a pé, com os anos e com o peso no rabo a aumentar, começou a tornar-se isuportável, então pedia ao meu pai para nos levar a todos (muitas vezes iamos 7 e 8 no carro, uns ao colo dos outros e um ou outro no porta bagagens) à festa da senhora dos remédios, feita na terra com o mesmo nome. Nesta grande festarola, tínhamos sempre uma banda regional a tocar, cheiro a assados e a vinho, rifas, algodão doce e tudo isto junto era o pico máximo das férias, porque no resto do ano, não se passava mais nada por ali. Lembro-me, e dá me um aperto no estomago, de quando andavamos ás voltas à igreja, que era o centro do acontecimento, para ver se encontravamos o rapaz de quem gostavamos. Na altura das festas era quando havia mais hipóteses de andar de mão dada, de dar uns beijinhos inocentes numa das ruas por trás do adro, e todos os nossos coraçõezinhos palpitavam. Era tão divertido. Adorava comprar as rifas de 25 cêntimos, onde saíam os penicos mais elaborados que eu vi até hoje, utensílios de cozinha, vasos, potes, panelas, cadernos, canetas e bibelots. Este fim de semana comprei três rifas e saiu me um cacto, um saco com ervas secas para dar cheiro e uma mala de especiarias. Já não se fazem prémos de rifas como antigamente. Davamos 100 escudos por um algodão doce. Agora damos 2 euros e meio. Esta história da conversão é mesmo à velha, mas que se lixe, eu sinto-o na minha carteira, porque agora já não peço aos meus pais. Sinto tantas saudades destes dias de Verão, completamente preenchidos por coisas engraçadas e sempre na companhia de grandes amigos.

Saudações da Anita


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