Na Austrália, há um precipício chamado "The Gap" e que é um chamariz de pessoas com tendências suicídas, para dar termo à sua vida. Por trás desse mesmo precipício, existe uma vivenda de dois andares, onde mora um senhor de 82 anos, Donald e a sua esposa, Mary. Ambos reformados, ávidos viajantes de todo o Mundo, pais de três meninas e avós de outras três. Felizes, com um daqueles amores à moda antiga, que já não existem nos dias de hoje, dividem o seu tempo a ler livros e a vislumbrar a vista magnífica que têm da sua varanda.
O marido, Donald Ritchie, levanta-se todas as manhãs e vai até à sua janela, de onde vislumbra transeuntes que passeiam rente ao precipício e que por vezes param, pensativos, a olhar para algo indefinido e se sentam, perdidos nos seus pensamentos. Don veste-se, desce as suas escadinhas, atravessa a estrada e interpela essas pessoas. Com o seu maior sorriso, pergunta-lhes se morrer é realmente a melhor opção. Ouve-as, fala com elas, em última instância, pergunta-lhes se estão interessadas em entrar na sua humilde casa para beber uma bebida quente e receber algumas palavras de conforto. Algumas aceitam. Outras sentem demasiada dor, e quando Don chega ao sítio onde as viu, encontra apenas a tristeza de saber que terá de contactar as autoridades para vir recolher um corpo. Já perdeu muitas por um bocadinho, por não as conseguir agarrar ou por os seus olhos azuis não conseguirem transmitir segurança a corações irremediavelmente despedaçados.
Saudações da Anita
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