quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ode ao Rui Carvalho

Por todos os segundos preciosos que tive a oportunidade de te ter na minha vida, escrevo-te esta ode que não vais poder ler, mas que eu sei que vais ouvir.

Numa fase da minha vida em que me sentia um verdadeiro patinho feio, entrei na Escola Secundária D.Dinis. Nesta escola fiz amigos, daqueles que quando o tempo afasta faz doer a sério. E foi quando te conheci. Lembrava-me de ti da escola básica, mas já na altura eras tão "fixe" que eu até tinha medo de me aproximar. Agora, na secundária, eras irmão de uma grande amiga minha, colega da mesma turma. Começámos a falar e rapidamente nos tornámos amigos, tínhamos músicas em comum, tínhamos filmes em comum e acima de tudo, tínhamos gargalhadas semelhantes, hábitos parecidos e personalidades sorridentes e afáveis. Um dia levaste a tua viola para a escola e tocaste enquanto eu cantava, com um público sempre presente, os nossos amigos. Parecia que tínhamos combinado. Era fantástico quando nos sentávamos os dois a fazer o nosso pequeno espectáculo e fazíamos parar "o trânsito". Melhor foi quando ficámos juntos nos balneários da competição inter-escolas que nos permitiu passar dias inteiros, com dispensa das aulas, a cantar, enquanto os jogos decorriam. Fizeram-me sentir que era realmente boa nalguma coisa, numa coisa muito boa. E inevitavelmente, comecei a gostar de ti. Aquele gostar de menina, de "ele é uma pessoa tão boa que era maravilhoso ter alguém assim" e quis-te só para mim, mas foi algo que em pouco tempo foi completamente suplantado pela amizade que sentia por ti, superior a qualquer sentimento confuso de adolescente com hormonas em sobressalto. Eras o meu melhor amigo, fizeste-me sentir que íamos poder cantar juntos para sempre, que iriam sempre haver novas músicas para ensaiarmos juntos e para ouvir os aplausos dos nossos amigos, que tanto gostavam de nos ouvir tocar.

Quando chegou a altura de acabares o secundário, veio o inevitável baile de finalistas. Todos estavam ansiosos por saber com quem iam, todos preparavam os seus melhores vestidos e fatos, os seus melhores sapatos, e eu nem queria saber, porque sabia que não ia ter um par. Eu sabia que ninguém iria querer ir comigo. E tu sugeriste irmos juntos. E prometo-te Rui, foi das melhores coisas que algum amigo fez por mim, em toda a minha vida. Senti-me tão bonita quando fui ter a tua casa e me viste, tão destrambulhada como sempre fui, de vestido e me disseste: "Estás linda, amoure!" E me abraçaste! Lembro-me de tirarmos as fotos e de te ver de fato e achar-te tão bonito, de adorar que o meu melhor amigo me estivesse a apoiar naquela situação única. Quando entrámos na escola, todos os nossos amigos ficaram contentes por ver que eu tinha encontrado um par, todos queriam tirar fotografias connosco e eu acho que se tivesse havido concurso de "Rei e Rainha" nós teríamos ganho. Eu senti-me feliz, fizeste-me muito feliz porque me ensinaste a acreditar em mim. As lágrimas caem me pela cara por me recordar do bem que me fizeste, da felicidade que me trouxeste só por seres quem eras. Eras verdadeiro, eras meu amigo de verdade e apoiaste-me em todas as situações, fizeste-me sentir que era bonita quando sofria com enormes depressões por não o conseguir ver em mim e fizeste-me acreditar que os patinhos feios também podem ter amigos em pessoas que são completamente fora do seu mundo, quando os corações são puros, não é o exterior, mas sim o interior que conta.

Não aceito que partiste. Principalmente não aceito que tenhas partido da maneira que partiste. Nem um ano antes encontrámo-nos, depois de já largos anos sem nos conseguirmos ver e tocámos e cantámos toda a tarde no jardim, enquanto me falavas da tua namorada e eu te falava do meu e nos ríamos dos velhos tempos e dos nossos concertos improvisados na escola. Estava tudo na mesma, era como se tivessemos estado juntos na escola no dia anterior.

Quando o Plácido me ligou e me disse o que se tinha passado contigo, o meu coração gelou. As lágrimas caíam impiedosas e durante duas semanas, não quis ver ninguém, não te consegui ir ver e nunca vou ter maneira de te pedir desculpa por não me ter despedido de ti. Mas sabes, eu ainda não me sinto preparada para me despedir de ti. Continuo à espera que me ligues, continuo a sentir que vamos cantar e tocar juntos um dia destes. E recuso-me a aceitar que o mundo ficou sem ti, isso nunca vou aceitar. Parece mentira que está perto de fazer dois anos que não falo contigo, que não te envio um link de uma música pelo youtube para ouvires e ensaiares para cantarmos quando nos encontrarmos. Penso sempre em ti quando ouço as músicas que cantávamos, a Michelle da Anouk então, eu evito mesmo, porque me leva às lágrimas de todas as vezes. Vou continuar a acreditar que o que nos separa é apenas o tempo e não os mundos em que estamos. Vou olhar de vez em quando para o telemóvel para ver se tenho uma mensagem tua a agradecer a música que te enviei. E vou sorrir para as estrelas a saber que uma delas és tu, mas a fingir que estás simplesmente noutro sítio a sorrir para elas também.

Unforgettable, that's what you are
unforgettable, though near or far...

Saudações da Anita

3 comentários:

  1. spechless..;( a vida é tão injusta!

    Claudia Rocha

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  2. O meu mensageiro das más notícias foste tu Ana,

    Quando me contaste fiquei gelada, como se a própria morte tivesse passado por mim.
    Ainda hoje me lembro dele, e a minha mãe também se lembra muito dele e ficou completamente chocada quando lhe contei.

    Existirás para sempre no nosso coração RUI.

    Diana Nona
    É difícil acreditar quando amigos nossos partem...

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  3. Um abraço forte, apertado e sincero.


    MS

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