quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ai Sertã, Sertã...não, não é a frigideira

Hoje vou voltar à história das minhas andanças em miúda. Vou vos falar da Sertã, uma linda vila ali no distrito de Castelo Branco que foi o palco de uma série de "primeiras vezes" da minha vida.

Cheguei lá com apenas 13 anos. Ninguém me dava essa idade e ninguém acreditava em mim. Digamos que foi por volta dessa altura que todas as protuberâncias pelo meu corpo fora se desenvolveram. Já que a minha vida em Lisboa era um boa porcaria, achei que na Sertã podia fazer com que as pessoas me conhecessem a sério, tal como era, e ia ser a rainha da cocada preta. E durante uns tempos fui. Sentia-me felicíssima de chegar lá e saber que tinha amigos à espera, contentes por saber que eu ia chegar, nunca tinha sentido isso. Ia o caminho todo com o coração a saltar no peito, com pressa de lá chegar para ver todos os meus amigos. Queria correr todas as "capelinhas" para encontrar toda a gente e quando encontrava, haviam abracinhos, mensagens saudosas e convites para tudo e mais alguma coisa.

Uma coisa muito bonita que eu encontrei na Sertã foi a amizade verdadeira e incondicional. Aquela que ainda hoje, passados 12 anos, se mantém. Conheci o companheirismo, conheci a união, conheci Sérgio Godinho, Jorge Palma e Pop Xula, provavelmente a melhor banda de garagem de sempre. Vi Santos e Pecadores, vi Emanuel e vi uma série de concertos pimba em todas as festas a que fui, desde a da Senhora dos Remédios, à da Juropiga, da Cumeada, do Cabeçudo, corremo-las todas. Vi 18 vezes o Titanic no cinema, porque nas férias não havia muito para fazer e o bilhete do cinema era tão caro como comprar um gelado, custava apenas 150 escudos. Apaixonei-me, mas desta vez com correspondência, dei a mão no escuro do cinema, dei o meu primeiro beijo que me soube a pastilha de mentol (parece um cliché mas é verdade). Troquei cartas, porque na altura não tínhamos todos telemóvel. Pediram-me em casamento ao som do Nothing Hill e discuti se se dizia universal em português ou em inglês. Fui traída pela primeira vez e senti uma dor dilacerante que nunca pensei ser possível sentir. Mantive durante anos o carinho por essa pessoa e cada vez que o via o meu estomago ainda se revolvia, voltamos a estar juntos uma vez apenas, cerca de 5 anos após o nosso namorico e foi o "closure" de que eu precisava. 
Saí até altas horas da madrugada, foi a primeira vez que entrei numa discoteca, fui à minha primeira festa da espuma e pela primeira vez na vida bebi álcool. Tomei banho na ribeira à noite, arrastei uma série de pessoas comigo e fizemos daquilo um ritual de cada vez que eu ia à Sertã. Cantei no açude, ao som das violas dos meus amigos, aprendi músicas revolucionárias e sonhei com uma volta a Portugal numa carrinha volkswagen com malmequeres cor de rosa. Vi a droga a aparecer nas vidas deles e eventualmente a desaparecer, sem ter tido curiosidade em experimentar. Roubei pão da porta da padaria ás 5 da manhã, fiz massadas de atum com ovos ou com o que houvesse em casa, para 10 ou 15 esfomeados que rodeavam a panela e a comiam à garfada a altas horas da madrugada. Fiz festas do pijama com um monte de pessoas em minha casa, acordei sem saber como lá tinha chegado e tropecei em 5 ou 6 pessoas a dormir no chão, para conseguir chegar à casa de banho. Descobri os sugos de melão, o pavê, os brigadeiros, o nascer do sol na varanda, sentada num banco e enrolada num edredon com a minha melhor amiga, tentei descobrir o fim do mundo a subir a ribeira e fui dada como morta. Dei 3 voltas à igreja a rezar avé marias para ver se aparecia um fantasma na porta, vi os esqueletos que foram descobertos no adro, com centenas de anos, subi os degraus dois a dois para não ver o diabo e contei histórias assustadoras para depois de me fazer de forte, ir para casa a olhar para trás de 5 em 5 segundos.

Dormi num sofá com mais 4 pessoas, parti um sofá cama, parti dois, obriguei os meus amigos a ver o rato xuxu e recebi um kamasutra ilustrado do meu querido amigo Vitor, na presença de toda a minha família. Comi gelado com marmelada, vi explodirem o meu microondas com uma lata de comida para gato lá dentro e incendiarem o cortinado da minha cozinha. Fiz comida que queimou, fiz comida que foi um sucesso e nunca fiz comida só para 1 ou 2. No meu 17º aniversário, o Mateus chegou bêbado a minha festa de anos e sentou-se ao lado do meu pai no sofá sem o ver. O João ainda hoje se lembra do atum atum atum e o Roger...será sempre o Rollerjet. Os tempos mudaram e as pessoas também, conheci novos grupos, abandonei alguns, as pessoas foram-se embora para estudar, para trabalhar fora, para tentar ter uma vida melhor. E eu fui ficando. Cada vez menos. Até ter perdido a minha casa, o antro do espírito sertaginense. Hoje, com 24 anos, recordo com carinho TUDO o que lá passei, todas as brincadeiras, todas as jantaradas, as festas, os sorrisos. Mas quando lá vou, está tudo vazio. O nosso tempo passou, mas quando foi vigente, foram os melhores anos da minha vida...
Saudações da Anita

2 comentários:

  1. O tempo pode ter passado.. as pessoas podem ter mudado.. mas acho que posso falar por todos os que tiveram o prazer de te conhecer, de estar contigo.. que nunca se esquece uma pessoa como tu!! :D

    Eu continuo a amar-te incondicionalmente, já te disse isto imensas vezes, anseio por te voltar a ver.. e te saltar para cima como nos velhos tempos!! :P sabes bem! Não me vou esquecer nunca do meu salto apertado :P LOL

    ADOREI este teu 'blogueamento' HAHAHA. Fez-me recordar muita coisa... e pensar em muita coisa que não faz sentido, na sertã! :x

    A distância e o tempo, pode separar as pessoas.. Mas só a verdadeira amizade não permite uma separação 'espiritual'! (foi bonito :') )
    Já te disse.. que até podes tar na China, que eu NUNCA te vou esquecer :P

    *beijão enorme com direito a saltar-te para cima.. e estrangular-te até os teus olhos saírem de fora! :D

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  2. Realmente é verdade... tudo!
    o tempo passa, as pessoas mudam... e acredita que até para as pessoas da sertã isso acontece, até para os sertaginenses "isto já nao é o que era"...
    e basicamente concordo com tudo o que a bosnia disse... inclusive na parte de saltar-te para cima quando te vir!

    e sabes bem... adoro-te!! amo-te!! para sempre :)

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